O que é a Renda Fixa Digital?
Depois de anos liderando a democratização dos investimentos em startups no Brasil, o Kria está ampliando sua atuação para um novo e promissor mercado: a Renda Fixa Digital. Essa nova fase da plataforma oferece aos investidores uma alternativa segura, acessível e com rentabilidade atrativa — tudo 100% online.

Destaques

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A ascensão dos Micro-VCs
Querida comunidade Kria,
Na última década, novos atores entraram no mercado de Venture Capital, dando opções paralelas a um ambiente antes dominado por fundos institucionais. Agora, contamos com um mercado pulverizado, onde investidores anjos, clubes de investimentos, plataformas (oi!) e micro-VCs firmaram seu papel.
Na news de hoje, vamos falar sobre os micro-VCs. Café na mão?

Na definição da Pitchbook, os Micro-VCs se configuram como qualquer fundo com menos de $50 milhões; enquanto isso, a Crunchbase sobe um pouco a barra para $100Mi; mas, no Brasil, é comum que esses fundos sejam menores. Num geral, são escritórios pequenos, especializados em early stage e que ajudam durante a fase de escalar as empresas, seja gerando conexões, seja provendo expertise em diferentes temas. Além disso, ao se voltarem para empresas iniciais, os micro-VCs também mostram que estão mais abertos a aceitar os riscos, se beneficiando quando as empresas crescem exponencialmente (sim, a curva em J entrou aqui, de novo).
De acordo com a Crunchbase, o número de micro VCs aumentou 120% na última década, com cerca de 58% com sede nos próprios EUA. Esse rápido crescimento faz com que seja esperado um aumento também no tamanho do mercado, onde se projeta um boom de vários milhões de dólares até 2029:

Atualmente, cerca de 70% dos Micro-VCs investem em early stage, e contam maior flexibilidade e adaptação de tese. Uma vez que costumam contar com menos LPs envolvidos, também têm capacidade de tomar decisão mais rápida. Outro ponto interessante é a menor obsessão com os unicórnios, uma vez que se interessam por empresas com capacidade de crescer e distribuir valor aos investidores com exits que podem ser “só” milionários, não sendo tão ansiosos com o valuation de um bilhão.
É claro que a cereja do bolo dos Micro-VCs reside no acompanhamento da empresa e no relacionamento com a equipe fundadora. Isso porque eles trocam a política de ter diversas empresas no portfólio, como nos fundos maiores, e, com isso, podem dedicar mais tempo no auxílio das investidas.
Por aqui, somos muito adeptos à tese de um mix de capitais investindo nas empresas. Temos co-investimento com importantes micro VCs, como a Grão, investidora da Mais Mu, EquityRio, nossa parceira e investidora na The Question Mark e Flip Saúde e, recentemente, a STRIVE, que está liderando a atual rodada bridge de R$3 milhões da Flip Saúde. Um motivo de orgulho para nós é que a STRIVE conheceu a Flip Saúde quando convidamos Thiago Galli, managing partner da empresa, a ser nosso Deal Partner na rodada realizada em 2023. Foram 18 meses de relacionamento construído entre as partes.
Por isso, também fica o convite: quer apresentar seu negócio para o Kria? É só demonstrar seu interesse e o time de VC entra em contato com você :)

- Como mencionamos, a Flip (antiga Axxes) recebeu aporte da Strive. Pelos próximos dois anos, contará com o auxílio de 35 investidores que entraram pela Strive; entre eles, nomes como Pedro Conrade, CEO e fundador do Neon, Marco Cauduro, ex-CEO da CCR e sócio da Prisma Capital, e Maria Teresa Fornea, vice-presidente da unidade de home equity da Creditas.
- A Fluke lançou um espaço para empresas, onde fornece planos de telefone corporativos.
- E, claro, relembre nossa incrível página de comemoração dos dez anos de Kria!
Obrigada por ter me acompanhado até o fim de mais uma news. Nos encontramos toda quarta-feira, 16h37! Dúvidas, opiniões, feedbacks? Basta responder esse e-mail! :)
E não esquece também de encaminhar esse e-mail para seus sócios, colegas de trabalho e amigos. (Se você recebeu o email pela primeira vez agora, faça o cadastro no nosso site para receber as próximas edições.)
Au revoir,

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A era do co-investimento
Muito se fala sobre a bolha do Venture Capital – como, dentro do círculo de pessoas de VC, se trocam ideias, opiniões e apostas. E, enquanto tem o lado no qual já provocamos a reflexão, como a questão da diversidade ou do hype dos investimentos, também devemos reconhecer uma coisa muito importante: o quanto o VC se fortalece por sua comunidade.
É inviável criar um fundo solitário. Parte da dinâmica do Venture Capital é fundada em se fortalecer por bons relacionamentos: seja para criar pontes para futuros exits das suas investidas ou trocar figurinhas no dealflow, muitas vezes gerando uma rodada conjunta. Aliás, às vezes nem apenas fundos, mas também LPs – como family offices, investidores anjo, fundos de pensão – e private equity.
Mas, afinal, por que diversos players investem em parceria?
Podemos colocar como a razão principal a diluição de riscos entre os investidores.
Investimento em startups é uma modalidade de alto risco, que se contorna com a criação de um portfólio diversificado. Ao ter mais empresas com seu selo, a chance das bem-sucedidas gerarem retornos capazes de mitigar o impacto de falências ou downrounds é bem maior. Nas palavras do David McClure, da 500 Startups: “uma estratégia de investimento de capital de risco mais prudente seria construir o tamanho do portfólio com base no número de investimentos necessários para gerar pelo menos um grande resultado (ou cerca de 3 a 5 grandes resultados, para garantir a segurança estatística).”

Assim, investir em comunidade garante rounds mais robustos e beneficia tanto os investidores, quanto os empreendedores. Além de, claro, fortalecer a união entre as partes e gerar mais insumo de experts, uma vez que mais analistas avaliam a rodada.
A diminuição de riscos não é o único bônus de um co-investimento. Além de ser útil durante a rodada, abrindo a possibilidade de mais grandes nomes chancelarem a startup e agregarem valor, a comunidade também se mostra importante no pós-investimento – onde uma quantia maior de experts consegue prover suporte aos desafios das empresas e fomentar seu crescimento.
Outro ponto relevante é a construção (e manutenção!) de relacionamento com fundos que podem se tornar os investidores das empresas do seu portfolio: tanto para garantir que tenham liquidez e capital de giro para dar continuidade ao seu negócio, como para aumentar seus valuations. Como o foco do VC sempre fica no exit, a continuidade dessas rodadas pode implicar em maior retorno.
Por esses motivos, se tornou cada vez mais o foco de diversas operações, chegando a ser a preferência de investimentos de quase dois terços dos LPs, segundo o Private Equity International.

Não é de se surpreender que, durante a última década, os co-investimentos mais que dobraram. Segundo a Pitchbook, a expectativa é de ainda mais crescimento, uma vez que a estratégia toma cada vez mais prioridade no portfólio de LPs, que buscam participar das rodadas.

Por aqui, o movimento é muito comemorado. Já celebramos captações com nomes como EquityRio, Kaszek e Din4mo Ventures, e planejamos seguir nesse caminho – afinal, nosso posicionamento sempre foi trazer a possibilidade do investidor PF participar do Venture Capital de fato. Vem com a gente?
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Um novo capítulo na história do Kria
Em 2014, fundamos o Kria com uma missão ousada: democratizar o mercado de capitais no Brasil. Acreditamos que o acesso ao capital — esse motor que impulsiona inovação, crescimento e impacto — não deve ser privilégio de poucos, mas uma ferramenta nas mãos de muitos.
Fomos pioneiros ao lançar a primeira plataforma de equity crowdfunding do país, permitindo que qualquer pessoa pudesse investir em startups promissoras. Desde então, estruturamos mais de 100 ofertas públicas, movimentamos R$136 milhões em investimentos e construímos um portfólio com empresas que atraíram os principais fundos de venture capital do Brasil e do mundo — com mais de 15 exits ao longo do caminho.
Agora, damos um novo passo.
Depois de 10 anos construindo um ecossistema robusto, ampliamos nossa atuação para além do investimento em startups, consolidando o Kria como uma plataforma completa para quem deseja investir em real world assets — ativos do mundo real.
Nosso primeiro movimento nessa direção é a renda fixa digital, uma classe de ativos complementar, mais dinâmica e alinhada ao investidor moderno. O que antes era restrito aos grandes bancos e a poucos investidores institucionais, passa a estar ao alcance de uma base mais ampla — de forma direta, segura e transparente.
Três forças sustentam essa expansão:
1. Um mercado com forte demanda por crédito
O gap de financiamento para PMEs no Brasil é estimado em mais de R$500 bilhões, segundo o SME Finance Forum. Enquanto os grandes bancos priorizam empresas de maior porte, as pequenas e médias seguem com acesso restrito à capital.
Por outro lado, cresce o apetite de investidores por ativos de renda fixa com melhor relação risco-retorno, impulsionado por taxas de juros elevadas e maior maturidade financeira.
A renda fixa digital nasce desse encontro: conecta empresas com necessidade de capital a investidores em busca de alternativas rentáveis, seguras e transparentes.
2. Um ambiente regulatório favorável
Nos últimos anos, a CVM tem modernizado o arcabouço regulatório com uma abordagem construtiva. A Resolução CVM 88/22 e o Parecer de Orientação nº 40/22 permitiram que plataformas como o Kria atuem diretamente na estruturação e distribuição de ativos tokenizados e securitizados — como CRIs, CRAs e recebíveis — com mais eficiência e menos intermediação.
Essa evolução torna possível operar com agilidade e baixo custo, sem abrir mão da segurança jurídica, da rastreabilidade e da transparência para o investidor.
3. Uma plataforma preparada para liderar
Enxergamos a renda fixa digital como uma extensão natural da missão do Kria. Temos uma base sólida de investidores, expertise regulatória e tecnologia proprietária que nos permite transformar estruturas complexas em experiências simples e acessíveis.
Assim, o Kria se transforma em uma plataforma mais conectada ao novo mercado de capitais:
• Para investidores, novas oportunidades de diversificação com lastro real.
• Para empresas, acesso inteligente a capital em diferentes estágios e formatos.
• Para todos, um mercado mais moderno, aberto e conectado com o futuro.
O novo mercado de capitais será mais digital, mais descentralizado e mais conectado à vida real. E o Kria está aqui para liderar essa transformação.
Crie conosco o futuro dos investimentos.

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Precisamos olhar para founders de fora do nosso círculo
Atualmente, o principal meio da empreendedora acessar investidores é através de suas redes de contatos. É comum vermos fundos com recomendações de que a melhor forma de chegar é via warm intros. Nesse sistema, a empreendedora deve chegar com validação de alguém que o investidor conhece e confia.
Essa validação é um primeiro “corta-mato” para investidores que analisam centenas de negócios. E quanto mais qualificada vem a oportunidade (e aqui me refiro ao “naipe” do introdutor) mais avançada a startup entra no funil de seleção.
Se seguirmos o princípio do Pareto, que nos ensina a fazer o 20% principal, responsável por 80% do resultado, o modelo de warm intros parece ser o ideal. O investidor constrói uma rede de contatos forte e qualificada, que origina os melhores negócios. A falácia aqui está no que configura os melhores negócios: pela lógica das warm intros, seriam fatores essencialmente demográficos e sociais, que excluem a grande maioria dos empreendedores e empreendedoras brasileiras.
Como investidores com a oportunidade (e responsabilidade) de apostar nos potenciais grandes negócios do futuro, deveríamos ter um sistema que beneficia verdadeiramente a qualidade dos negócios e das pessoas a frente deles, sem enviesar a análise pela sua origem.

Resgatando o Venture do VC
O mercado de Venture Capital se baseia na busca por outliers — negócios fora da curva, de alto crescimento. E o outlier é, na própria essência da palavra, um fora do padrão. Mas às vezes parece que padronizamos o significado de fora do padrão.
O empreendedorismo brasileiro vai muito além dos jovens com MBA em Harvard, MIT ou Duke. O Brasil é praticamente um continente: os problemas, soluções e oportunidades de cada estado são diversos. Mas nossa atuação baseada em uma rede fechada — qualificada, porém pouco diversa — nos impede de encontrar novos mercados. São Paulo concentra 31% do PIB brasileiro, porém mais de 80% do volume de Venture Capital. Precisamos descentralizar o investimento, e fomentar polos para além de São Paulo, Rio de Janeiro ou Floripa.

Lembro no começo do ano de conversar com um empreendedor e reproduzir, com certa segurança, a visão de que não falta capital para bons negócios. Adorava a frase do Sam Altman, de que é mais fácil receber investimento do que investir (ainda que o mercado norte americano é muito mais desenvolvido do que o brasileiro, temos capital em abundância por aqui).
Hoje entendo que essa visão se aplica apenas às startups que estão no círculo do VC. Analisemos os investimentos que acontecem: Há uma competição por um pequeno número de insiders deals. Os empreendedores têm o poder de barganha e podem escolher quem querem entrando na rodada, e vemos algumas vezes os mesmos fundos compondo juntos as rodadas.
Mas o círculo do VC é pequeno. Geralmente os investidores compartilham das mesmas redes de contatos (segundo o Emerging VC Fellows, os analistas de investimento são homens, moram em São Paulo e cursaram administração na FGV ou USP). Existe uma competição pelos melhores investimentos, mas nossa visão de oportunidades está muito restrita ao nosso meio. Não estamos todos pescando no mesmo aquário?
A próxima grande coisa pode vir de qualquer lugar
Quando completou 10 anos (2015) , o fundo First Round Capital publicou um estudo em que compartilha 10 lições aprendidas sobre performance dos investimentos. A Lição #9 é de que “A próxima grande coisa pode vir de qualquer lugar”: as empresas que eles descobriram via outros canais — Twitter, Demo Days — performaram 58% melhor do que as que chegaram via referência. Empreendedores que chegaram direto a eles, performaram 23% melhor.

Precisamos reconfigurar o Venture Capital para um modelo que não seja baseado em redes de contatos acima de talento ou oportunidade. Falta de diversidade nos empreendedores é um dos resultados dessa estrutura. Perder oportunidades fantásticas de investimento é outro.
Na prática, o que podemos fazer?
Expandir nossas redes
Redes são essenciais. Sempre acreditei (e com o Kria pude comprovar) o seu valor. Empreendedoras sem rede terão diferentes desafios pela frente. Empreender é se relacionar: para atrair talentos, negociar com fornecedores e acessar clientes. Mesmo se a rede é condição sine qua non para o sucesso de um negócio, não deveria ser para o investimento.
Em tempos em que os investidores oferecem uma gama de produtos para catapultar suas investidas, a rede é o principal deles! Nutrir uma rede forte é grande parte do trabalho de quem investe. Minha provocação aqui é por diversificarmos mais as nossas redes, torná-las mais abertas, e com espaço para que gente de fora possa também fazer parte.
Transparência na forma que as empreendedoras podem nos acessar
Deixar aberto, a mercado, o modelo de aplicação para receber investimentos. Esclarecer o tipo de negócio que busca, as validações prévias necessárias, e a melhor forma (e materiais) para receber e analisar oportunidades de investimento.
Deveria ser como um processo seletivo. A candidata vê a vaga, e deve atender os requisitos para aplicar. Em processos mais elaborados, pode-se aplicar questionários de pré-qualificações automáticas, ou até testes que já realizam a primeira filtragem.
Para o sistema funcionar, a empreendedora deve fazer sua parte: aplicar apenas para investidores que o englobam na tese, no formato solicitado (e com as informações solicitadas). Entendemos que há alta expectativa em jogo, mas recusar uma oportunidade de investimento é parte do trabalho — já vi empreendedores levando para o pessoal. Não leve para o pessoal.
Toda boa empreendedora deveria ter acesso às instituições de capital de risco. Claro que devidamente dentro da tese de investimentos, e seguindo um processo claro que não sobrecarregue os investidores. O ideal seria um sistema aberto e democrático, que filtre e qualifique o alto fluxo de negócios que surgem, mas que passado o filtro, dê atenção a eles, independente de conexão com a rede dos fundadores. E isso não é solucionado apenas com um produto, precisamos mudar a cultura!
Vamos lá?
Formulário para aplicação no Kria
É um modelo simples, criado no Airtable — versão gratuita, fácil de editar e ótimo para gestão de dados, com tudo o que buscamos em uma primeira filtragem: https://airtable.com/shrz6cFyOqJ57DwoQ
Tempo de resposta: 10 dias
Para quem é:
Seed a Série A
Faturamento de até R$10 milhões/ano
Empreendedoras(es) com forte tese de comunidade, em especial nos mercados de: Bens de Consumo, B2C, Marketplaces; SaaS e Fintech

Referências e aprofundamento
- Esse artigo do Del Johnson é a base e principal inspiração. Ele aprofunda ainda mais no tema.
- O livro Factfulness aborda uma visão macro sobre como limitamos nosso olhar para o mundo, e perdemos grandes oportunidades por isso.
- Artigo de André Francisco Alves Moura sobre diferenças regionais no cenário do Venture Capital, para Época Negócios
Um contraponto (porque é sempre bom conhecer diferentes abordagens):
- O fundo Astella compartilhou uma análise da origem de seu dealflow. Neste ano fizeram o primeiro investimento originado por um cold call. Eles construíram uma rede bastante rica, responsável pelas indicações de investimentos. A boa performance do portfólio pode respaldar a força da rede.
Por fim, algumas observações:
1. O que escrevo não é sobre a qualidade e potencial dos deals que estão sendo feitos, mas sim dos que não estão.
2. Minha provocação é também uma autocrítica. Temos muito a diversificar dentro do Kria!

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O dilema do efeito de rede
Durante este ano, a força do Tiktok — mais de 800 milhões de usuários, pauta diplomática em meio à maior crise de saúde do século — me provou a potência dos negócios baseados em rede. Por outro lado, a manifestação dos entregadores de aplicativos de delivery mostrou a fragilidade dos negócios baseados em rede.
As recentes discussões sobre os modelos de negócios das big techs e as formas com que exploram (ou manipulam) informações lançou luz sobre como os negócios que atingem um monopólio com uma rede conseguem influenciar e dominar mercados em escalas globais. Neste artigo compartilharei com você uma visão do fenômeno de efeito de rede.
A potência dos negócios baseados em rede
O efeito de rede (ou network effect) ocorre em um negócio quando o produto ou serviço se torna mais relevante de acordo com o crescimento da rede. Em outras palavras, quanto mais conexões fortes, mais valioso o negócio se torna, até atingir uma massa crítica que transforma a rede em um dos principais ativos e defesas da empresa.
O efeito de rede é na sua essência uma ferramenta de potencialização de negócios, e o seu valor é explorado de diversas maneiras: para redes sociais, cada novo usuário que se conecta e engaja é em si um ativo.Para marketplaces, quanto maior a demanda, mais atratividade para ofertar e vice versa. Outros negócios conseguem se destacar em dados: quanto maior a rede, mais informação ela gera, e a conversão dessa informação em inteligência fortalece por sua vez a vantagem competitiva. Temos casos de redes que constroem colaborativamente o produto com as empresas e redes que diminuem custos dos serviços.
Analisemos o TikTok: qual a graça do aplicativo para 5 usuários? Ou até 500? A frequência e diversidade de conteúdos é baixa. Você se conecta menos e gasta pouco tempo em cada conexão. Mas cada novo membro que entra no TikTok engrandece a rede, até um momento em que temos novos conteúdos surgindo a cada instante — as pessoas passam a se conectar mais e gastar mais tempo no aplicativo. O Tiktok fica então mais interessante e atrai mais usuários. Os novos usuários, por sua vez, aumentam a atratividade do aplicativo. E por aí vai (e foi, até os 800 milhões de usuários).
Número de usuários não é efeito de rede.
O efeito de rede é composto de:
1. Elementos: são os membros da rede — como os usuários ou as contas. Diferentes elementos podem ter variados papéis em uma mesma rede (ex. comprador/vendedor). O tamanho da rede é determinado pelo número dos elementos, mas isso não determina o valor dela.
2. Conexões entre os elementos: ligações que os elementos têm entre si, que por sua vez podem ser diretas ou indiretas, de 1:1 ou de 1:muitos. As conexões não são todas iguais — têm forças diferentes, de acordo com a frequência, proximidade e importância das trocas. A forma com que os elementos se conectam entre si, e as possibilidades de conexões, cria redes de diferentes densidades. Quanto mais interligados os elementos da rede, maior a sua densidade.

De acordo com o Venture Capital Nfx, 70% do valor criado no mercado tech desde 1994 vem do efeito de rede, sendo ele o principal atributo das empresas de tecnologia mais valiosas. Isso significa que o sucesso desses negócios está altamente atrelado à potência da rede. Para o bem e para o mau.
A fragilidade dos negócios baseados em rede

Na semana em que a Uber debutou na bolsa de valores, com um discurso inspirador sobre o valor dos motoristas para a construção da empresa, os motoristas estavam nas ruas protestando contra as condições de trabalho. Neste ano, entregadores das gigantes de delivery — iFood e Rappi — foram também às ruas protestar por melhores condições.
Quando os membros da rede não estão “fechados com o negócio”, o negócio está ameaçado.
É normal termos alguns elementos não fidelizados em nossa rede — e pode ser que esse é o contexto de Uber, Rappi e iFood. O problema é quando eles representam uma massa relevante e substancial para o valor do negócio: o membro insatisfeito abandona a rede (ou continuará lá até encontrar uma oportunidade melhor). O abandono em massa faz com que a rede perca o valor. A perda de valor gera um efeito de rede negativo. E por aí vamos novamente.
O que perpetua um negócio network based é a sua capacidade de continuamente gerar valor para a rede, e manter os elementos engajados e motivados.
E quando falo de mantê-los engajados, não é através de manipulação comportamental ou produtos viciantes. É sobre realmente olhar para os membros da rede, como participantes ativos e livres, e não como produto ou capital. Aqui entra a importância de se construir comunidades. Entenda comunidade como um senso de pertencimento, uma reação psicológica/emocional que fortalece o nosso vínculo com o negócio.
“ O senso de comunidade é o sentimento que os membros têm de pertencimento, o sentimento de que os membros importam um para o outro e para o grupo, e uma crença compartilhada de que as necessidades dos membros serão atingidas através do compromisso de estar junto” — McMillan

A dinâmica de construção de comunidades não é de hoje (e nem da época do Orkut!): é uma estrutura social básica. Nós nos conectamos a grupos de acordo com afinidades, contexto e objetivos em comum; e quanto maiores as similaridades, mais forte nossos elos e senso de pertencimento.
Se um negócio tem em sua essência a rede, é valioso que tenha com essa rede uma comunidade: que eleva os vínculos participante < > empresa e cria uma identidade forte, e que gera identificação entre os membros.
E claro, não basta chamar um grupo de comunidade para que ele o seja. Os participantes da comunidade devem perceber uma troca de influência — de que são importantes para o grupo, e de que o grupo é importante para eles — e uma intimidade com os outros membros — a sensação de que irão compartilhar histórias e experiências. Por fim, o mais importante, é a noção de que as suas necessidades serão atendidas por pertencer ao grupo.
Nesse momento — que o valor oferecido é bom o suficiente, que os momentos bons e os perrengues são compartilhados, e que há uma sensação de ser importante -, a rede se torna uma comunidade. E o efeito de comunidade é muito mais forte que o efeito de rede.
Originally published at https://www.snaq.co.

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Recado foi dado ao empreendedore. Mas e ao Venture Capital?
Nas últimas semanas a sensação no ecossistema das startups tem sido de caos. O que se percebia de forma sutil desde o começo do ano, ficou escancarado quando os fundos começaram a soltar seus avisos de tempos difíceis pela frente.
YCombinator e Sequoia Capital deram início a uma nova onda de manifestos de investidores avisando seus empreendedores que o mantra da vez é o “Cash is King”. Os cuidados dos fundos se tornaram, por sua vez, uma profecia autorrealizável, e até para quem estava tudo bem, não está mais.
Nesse cenário, me peguei pensando sobre o papel dos Venture Capitalists. Preparar seus empreendedores para o pior é fundamental, com certeza. Claro que devemos saber dançar a música do momento — e quando o contexto muda, temos que nos readaptar e mudar também, naturalmente. Mas enquanto os fundadores são os dançarinos, os Venture Capitalists são os próprios maestros.
E quando a música para de tocar, os maestros também precisam se adaptar.
O cenário macroeconômico é o grande propulsor da crise. Os juros altos diminuem a atratividade do capital de risco, e a inflação compromete toda a cadeia. O comportamento do mercado mudou — de consumidores, fornecedores, investidores. Mas para além disso, a sensação é de uma correção necessária, dolorosa, e que vem para o bem.
Nos últimos dois anos, o FOMO ditou o ritmo das rodadas. Era comum vermos investidores destacando que selecionavam negócios em poucos dias, ou até mesmo em poucas horas de reunião. Em grau de prioridade, capacidade de encantar pareceu mais importante do que capacidade verdadeira de execução.
Na mesma linha, mais de um empreendedor já me reportou o cenário de ter recebido dezenas de “nãos” dos fundos até que o primeiro corajoso disse o sim, e em um efeito dominó os antigos nãos se transformaram em um “mudei de ideia”.
O problema do FOMO é a geração de um efeito manada em que a maioria ditava a atratividade do deal, empreendedores de fora do círculo tinham menos acesso a capital e o valor atribuído aos negócios seguia mais a lei de oferta/demanda de um mercado altamente competitivo do que variáveis concretas para precificação de potencial de crescimento.
Ainda falando sobre valor, o esporte da vez era a caça aos unicórnios (negócios avaliados em U$1bi). É incontestável que quanto maior o negócio, maior o seu potencial de transformação e impacto. Mas a sensação é que o impacto do negócio em si ficou em segundo plano — e a unicornização se tornou o objetivo final. Com isso, incentivamos captações de volumes extraordinários — e com frequência vimos negócios que haviam captado há pouco, levantarem mais uma rodada para engordar o caixa, pois o apetite dos fundos estava alto.
Não me leve a mal, sou fã de muitos dos unicórnios e não me oponho a rodadas gigantescas quando o capital tem bom direcionamento, e principalmente quando o open bar financeiro não nos leva a gastos ineficientes e menos criativos. O problema está quando isso se torna o playbook de sucesso generalizado, e mais importante do que o negócio em si.
Estamos vendo agora uma mudança em valuations, em premissas de crescimento e na visão de cresça a qualquer custo. Que bom! Temos ainda um cenário desafiador pela frente, e essas correções de mercado atingirão também aqueles empreendedores que estavam em um movimento mais consciente.
Minha esperança então é que não seja em vão. Que para além de enviar recomendações aos fundadores, os VCs façam também suas autoanálises e que possamos, enquanto mercado, nos reestruturarmos de forma mais equilibrada. Com menos hype nos investimentos, menos FOMO ditando a regra, e com mais valor real sendo gerado à sociedade. Vamos refletir e sair melhor dessa. O futuro do VC pode ser muito mais democrático e equilibrado. E precisa ser.

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Diploma de CEO
Essa semana, o professor Ilya Strebulaev, de Stanford, liberou um gráfico que compila o valor de exits – compreendendo abertura de capital, venda, liquidação ou encerramento das atividades comerciais – dos alumni de diferentes universidades americanas. Eles consideraram 1.100 companhias que passaram pelo VC americano e viraram unicórnios entre 1997-2021, investigando um total de 2.975 founders.
Stanford sai na frente – como esperado da criadora do Vale do Silício –, com quase U$400 bilhões de dólares em exits; enquanto isso, as outras são todas universidades prestigiadas, que lideram rankings e exibem diversos alumni notórios.

Isso nos invoca uma reflexão interessante: o quanto as universidades privadas americanas estão preparadas para fomentar o empreendedorismo e a inovação. O incentivo vai desde muitos eventos sobre empreendedorismo até ambientes de aceleração e mentoria para startups fundadas nas universidades. Com o ecossistema reunindo tanta gente interessante e interessada nas ideias que são criadas ali, e com os estudantes atingindo seu pico de foco no mercado, temos o seguinte ideograma:

Assim, entendemos que as universidades americanas conseguiram hackear esse cenário, e que o próprio Venture Capital dos Estados Unidos compreendeu. Segundo um report da Pitchbook sobre as universidades cujos alumni mais captaram investimentos em 2022, 9 das 10 primeiras estão em solo estadunidense.

Existe um dizer que eu gosto bastante: você é a média das cinco pessoas que é mais próximo de (embora, na minha opinião, esse número seja um pouquinho maior; o homem é um animal social). Na indústria de VC, onde a rede é um ativo importantíssimo, isso é cada vez mais evidente. Nessas universidades, a rede de contatos criada é extremamente potente e a chancela já é um fator positivo enquanto os fundos estão passando o pente-fino durante a seleção: muito da empresa é seu founding team, afinal.
Não podemos deixar de notar que o ranking é dominado por instituições privadas ainda. Como diria o professor Scott Galloway, as universidades estão se transformando em marcas de luxo - mas deixaremos essa provocação para um outro momento.
Para hoje, é interessante observarmos o impacto que a educação empreendedora tem no desenvolvimento de uma cultura de inovação no país. Aqui no Brasil, não queremos mais perder os nossos talentos para países de maior apoio à inovação (o Eduardo Saverin, que co-fundou o Facebook; o Henrique Dubugras, da Brex; são alguns dos exemplos de brazucas que se mudaram para estudar e empreender).
Iniciativas como a Agência de Inovação, da USP; ou a nova universidade com foco em empreendedorismo, a Inteli, fundada pelos sócios do BTG, são um caminho que podem dar mais chance da formação de uma nova geração mais empreendedora. Made in Brazil, educated in Brazil, and for Brazil.

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Inovação Latina
Quão fácil é esquecer o quanto progredimos? Quanto temos que crescer antes de finalmente declarar a diferença do nosso ponto de partida? Se essas perguntas são relevantes para fazermos na vida, também se encaixam na percepção latina da sua própria inovação, que constantemente é esquecida. Aqui, a linha entre a naturalidade de querer crescer sempre e a falta de conhecimento de nossa própria história fica um pouco embaçada: afinal, o que a América Latina representa no mapa mundial de inovação?
Nos últimos anos, a América Latina cresceu como nunca antes, uma mudança que impactou toda a sua estrutura e relação com startups. Não só a relação interna, mas também externa: grandes investidores mundiais olharam para nós, e grandes números foram atingidos, colocando a região no mapa da inovação mundial. E, só nos últimos cinco anos, o crescimento foi tamanho:

Essas relações e crescimento mudaram também a forma dos latinos encararem a inovação. No Brasil, 87% dos graduandos em áreas de computação e programação disseram ter interesse em trabalhar numa startup, e 19% disseram ter fundado uma startup. Esse movimento é interessante quando pensamos a longo prazo: quanto antes o contato com o ecossistema de inovação surge, mais fácil de se tornar um empreendedor serial – e, segundo um estudo da Harvard Business School, essa experiência prévia dos founders dobra as chances de sucesso de uma startup.
Já mencionamos algumas vezes o boom de 2021, que aqui entra com relevância principal pelos rounds de late stage. E, por mais relevante que seja, quando olhamos para os investimentos de anos “normais”, ainda houve um crescimento de 63% do Venture Capital na área, mantendo a América Latina como o polo de maior crescimento em VC do mundo. O foco ainda entra no early stage, mas também podemos ver aumento em séries A e B.

Um ponto interessante é que o volume da região tem se mantido, mesmo que o tamanho dos cheques tenha diminuído. A especulação é que parte disso seja consequência da onda de “turistas” que se aventuraram no VC durante a pandemia: aqueles que não são parte do VC, mas se juntaram a grandes rounds, sem que investissem em nenhum que não chancelado (o que foi inteligente, para diminuírem seus riscos).
Nesse cenário, o Brasil faz o papel de hegemonia regional, concentrando metade do investimento em Venture Capital, enquanto o resto se divide nos outros 32 países latinos. No total do primeiro trimestre de 2023, foram U$1.208bi investidos em 161 rounds, novamente focados no investimento seed. O Brasil foi responsável por U$546Mi em 84 rounds, com destaque para a participação no late stage.

As startups latinoamericanas também vem se tornando cada vez mais exigentes com os fundos. Mais do que capital, a busca é por uma fonte de apoio e que aumentem as oportunidades futuras da empresa, agindo mais como parceira que como uma força superior que estende dinheiro e só aparece novamente para cobrar reports que indiquem crescimento.

E essa maturidade de mercado que conseguimos construir em tão pouco tempo deve ser celebrada. Criamos por aqui diversas tecnologias que mudam desde a nossa realidade até a realidade do mundo como um todo, e é hora de nos orgulharmos da participação latina na tecnologia. Daqui para frente, que venham mais rodadas e que cada vez mais possamos construir o futuro!